quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Os intelectuais europeus ainda têm relevância política?


Simone de Mello

(Na foto, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir de partida para Praga)

O intelectual ativista de esquerda entrou em extinção. Aderir aos conservadores já não é mais tabu. Mas será que engajamento político ainda é essencial para a definição de identidade do intelectual europeu?

A recente notícia de que os escritores alemães Siegfried Lenz e Martin Walser e o cabaretista Dieter Hildebrandt eram filiados ao partido nazista quando jovens abalou menos a opinião pública alemã do que a confissão que Günter Grass fez no ano passado sobre seu envolvimento com a Waffen-SS, unidade de elite do Exército de Hitler.

Mais do que o eventual comprometimento dessas figuras públicas com o regime nazista, o que realmente tomou a atenção da imprensa alemã foi a suspeita de que o partido nazista promovia filiações em massa, sem o conhecimento dos membros registrados. Os artistas na mira da opinião pública alegaram não ter conhecimento de sua filiação, e a justificativa foi aceita sem muito debate.

Pode ser que o escândalo desencadeado por Günter Grass já tenha rendido discussão suficiente e oferecido todos os argumentos para absolver as restantes figuras públicas. O assunto esgotou. Fato é que o argumento cabal para a absolvição desses artistas é sua credibilidade pessoal e o engajamento político que os tornou personalidades públicas influentes durante as últimas décadas.

Desobrigados de engajamento

O que mais chama a atenção nessa breve polêmica alemã é o apelo a valores que começam a perder a importância. É que a exigência de que o artista ou intelectual esteja do lado político "certo", que para a intelligentsia do pós-guerra sempre foi a esquerda, já deixou de ser formulada há um certo tempo. Ativismo político "correto" como garantia irrestrita de credibilidade pública: algo de que os intelectuais foram desobrigados?

Martin Walser, por exemplo, custou a reconquistar seu prestígio de literato após tê-lo colocado em risco há quase dez anos, ao reclamar da pretensa "instrumentalização do Holocausto" em um discurso proferido em 1998, em Frankfurt, por ocasião da entrega do Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão. Será que tal "deslize" ainda provocaria a mesma onda de indignação hoje?

O fato de o engajamento político ser um critério de qualidade que passou a se restringir aos intelectuais da velha guarda vem sendo aceito na Alemanha em silêncio, sem grandes debates. Na França, contudo, o desaparecimento do intelectual de esquerda tem sido registrado como uma ruptura traumática na identidade cultural coletiva. A adesão de intelectuais de esquerda, como o filósofo André Glucksmann, ao reduto do conservador Sarkozy durante as eleições presidenciais francesas causou espécie, mesmo que não tenha gerado a controvérsia esperada.

O fenômeno é descrito, em parte, como uma "virada de casaca" dos intelectuais originariamente de esquerda, fartos de pertencerem a um agrupamento político cada vez mais irrelevante. E a melhor forma de ser ouvido por quem está no poder e aumentar assim sua influência social seria aderir aos novos conservadores.

A França silencia

"A adesão ao Sr. Sarkozy simboliza a possibilidade de os intelectuais e filósofos se tornarem reacionários clássicos 'sem hesitação nem murmúrio', como diz o regimento militar", comentou o filósofo franco-marroquino Alain Badiou, em entrevista recente ao Le Monde.

E ele prossegue: "Essa adesão inclui a ligação corrompida com os ricos e os detentores de poder, a xenofobia antipopular e a adoração da política americana. Antigamente, quando um intelectual era de direita, ele tinha complexos. (...) O pós-guerra constituiu o personagem estereotipado do intelectual de esquerda. O que estamos assistindo agora – pelo menos é a isso que aspiro – é a morte do intelectual de esquerda, que entrou em declínio junto com a esquerda como um todo, antes de renascer das cinzas como uma fênix! Esse renascimento só poderá ocorrer numa clara divisão: ou um tipo novo de radicalismo político ou a adesão reacionária. Sem meio-termo."

A previsão de Badiou, filósofo que nunca se desligou de um horizonte socialista e marxista, não deixa de ter traços utópicos. Afinal, nada indica o surgimento de um novo radicalismo político entre os intelectuais europeus. A Europa como bastião de resistência à ascensão do neoconservadorismo americano: esta é uma (auto-)imagem em processo de diluição.

"Não permitamos nos entregar juntos à burrice"

A cumplicidade entre intelectuais norte-americanos e europeus parece ter morrido junto com Susan Sontag, considerada embaixadora intelectual entre os lados do Atlântico. Ao reagir com críticas aos políticos e aos órgãos de mídia norte-americanos após os atentados de 11 de setembro de 2001, Sontag se colocou na mira da opinião pública em seu país. Simbólico também o fato de ela se encontrar, naquela data, na American Academy de Berlim.

"Fiquemos de luto juntos. Mas não permitamos nos entregar juntos à burrice. Um pouco de consciência histórica poderia nos ajudar a compreender o que ocorreu e o que está por vir. 'Nosso país é forte' – é o que não param de nos dizer. Isso não necessariamente me consola. Quem duvidaria de que a América é forte? Mas força não é tudo que a América tem que mostrar agora." Essa declaração de Sontag gerou críticas ferozes nos EUA, inclusive por parte da intelectualidade.

A Europa, onde as reações ao 11 de Setembro foram mais diversificadas e emocionalmente mais distanciadas, se colocou a partir de então na posição de relativizar o radicalismo neoconservador ocidental e de compensar o silêncio – pelo menos inicial – de grande parte da intelectualidade norte-americana. Mas essa diferença também passou a se diluir nos últimos anos.

Calados ou ofuscados?

O silêncio dos intelectuais europeus domina o continente. Mas será que eles realmente se calam ou que seu chamado é ofuscado por outros discursos e pela onipresença da mídia diluidora de diferenças?

Esta última alternativa foi a explicação para a perplexidade muda com que os intelectuais italianos reagiram à era Berlusconi. Muitos observadores achavam que não era um silêncio voluntário, mas sim uma conseqüência da censura de vozes críticas na mídia televisiva controlada pelo próprio Berlusconi. Os radicais apelos de Umberto Eco, por exemplo, nunca foram televisionados.

Em um livro ironicamente intitulado Absent Minds. Intellectuals in Britain, Stefan Collini, professor de Literatura Inglesa em Cambridge, lançou – no ano passado – um perfil diferenciado do intelectual britânico do século 20. Desmentindo a suspeita de que o Reino Unido não teria intelectuais de peso, dado o pragmatismo do pensamento insulano, Collini disseca as formas de veiculação das opiniões da intelligentsia entre os redutos científicos e os meios de comunicação de massa.

Recentes discussões da sociologia alemã sobre o papel dos intelectuais parecem apontar para o desaparecimento de uma postura intelectual definitiva, como a que imperava nas décadas de 1960 e 70. A fragmentação do discurso intelectual, manifesto apenas nas brechas de um grande consenso entre política e mídia, dificulta cada vez mais sua apreensão. Ou será que o pensar complexo se torna cada vez menos comunicável numa era de informações rápidas?

"O consenso da retórica piedosa e deturpadora da realidade por parte de todos os políticos e comentadores da mídia nos últimos dias é indigno da democracia." Esta declaração, com que Susan Sontag horrorizou a opinião pública norte-americana em 2001, parece manter em certa medida a validade – e ter se estendido para além da América. Resta saber se realmente não existe nenhum meio-termo entre um novo radicalismo político e a adesão ao conservadorismo, como formulou Badiou. Ou quem sabe ainda não seja possível vislumbrar o efeito futuro de um discurso intelectual disperso e fragmentado.

TEMPO QUE FOGE

Ricardo Gondim

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.

Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos. Não gosto de assembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos à limpo".

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.

Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: - Gosto, e ponto final!

Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos".
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.

Já não tenho tempo para ficar explicando aos medianos se estou ou não perdendo a fé porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a "última hora"; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus.

Caminhar perto delas nunca será perda de tempo.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

ACM, Deus e o Diabo na terra do sol

ACM, Deus e o Diabo na terra do sol
(Miguezim de Princesa)

I
Numa sessão em Angola,
O meu amigo Raimundo
Recebeu alma penada
Que num contar bem profundo
Narrou a fundo a chegada
De ACM no outro mundo.

II
Todo vestido de branco,
Pois já tinha trocado o terno,
ACM se postou
Na entrada do inferno
Para onde foi direto
A mando do Pai Eterno.

III
Carregando água de cheiro,
Viu-se um cordão de baianas
Esperando o grande líder
Numa comitiva bacana
Com mais de 100 deputados
E um cão comendo bananas.

IV
Apareceu Lúcifer:
Com um chicote na mão
E a cara muito amarrada,
Foi logo dizendo, então,
Que entre o babalaô,
Hoje tem reunião.

V
Duma grande mesa de ferro
Já foram se aproximando.
Na cabeceira da mesa,
ACM foi sentando;
Lúcifer deu um pinote
E começou protestando:

VI
- Aqui, quem manda sou eu,
Eu sou o rei da folia!
Pra comer acarajé
Tem de pedir à minha tia.
Já falei pra Juraci
Que aqui não é a Bahia!

VII
ACM não falou
Durante a reunião,
Fingiu concordar com tudo
Que viu na resolução,
Disse: "Tou com Lúcifer,
Vou apertar sua mão".

VIII
Junto com seis senadores
Começou a passear,
A cumprimentar o povo
Que encontrou no lugar,
Nas esquinas do Inferno
Desandou a discursar.

IX
Lúcifer tava dormindo,
Acordou de supetão,
Pela brecha da janela
Viu muita aglomeração
E ao redor de ACM
Toda espécie de cão.

X
"O Inferno está sem graça";
"Queremos animação";
"Lúcifer é um moleza,
Não rouba nem tem ação"
- assim pediam nas faixas
Do diabo a deposição.

XI
Lúcifer inda propôs
Dois turnos de eleição,
ACM fincou pé
Que não aceitava, não,
Pois a vontade do povo
Pedia deposição.

XII
Lúcifer sai correndo,
Pulou um grande portão,
Encontrou do outro lado
Seu amigo Lampião.
Disse: "O homem tá com a gota,
Quer fazer revolução!"

XIII
- A hora é de resistir -
Exclamou Chico Pinguelo.
- Vamos botar pra feder -
Animou-se João Tranguelo.
- ACM hoje vai ver
Como se come farelo!

XIV
Aí, começou uma guerra
(Cacete de cão com cão):
A turma de ACM
Deitou abaixo o portão,
Tinha até uma quitandeira
Com uma vassoura na mão.

XV
No exército de ACM
Se viam até generais;
Lúcifer tinha cangaceiros
Que não acabavam mais
Pra defender o portão,
Reduto de Satanás.

XVI
O grande Lucas da Feira
Se agarrou com Pinochet,
Arrancou o seu bigode
Com uma agulha de crochê,
Deu uma facada em Videla,
Botou Médici pra correr.

XVII
O Cão-Coxo de um pinote
Uma tora de pau pegou,
Zuniu a tora no vento
Chega a direção mudou,
Meteu em Garrastazu,
A tora pegou no sul
Que o norte sentiu a dor.

XVIII
ACM quase morre
Na volta de Cão-Ligeiro,
Escapou manco de uma perna
Por dentro do marmeleiro,
Escoltado por uma diaba
Com um pau de bater tempero.

XIX
Corisco acertou um tiro
No general Golbery;
Castelo Branco, com medo,
Começou fazer xixi;
Lampião disse só falta
Do nosso lado Waldir.

XX
Apareceu Costa e Silva,
Sem saber por quem lutava;
Ernesto Geisel num canto
Com Figueiredo falava,
Enquanto o Cabeça Branca
Na capoeira escapava.

XXI
Se mandou em retirada,
Pegou o caminho do Céu,
Deu um esbregue em São Pedro,
Uma bicuda em São Miguel
E ainda pirraçou
O arcanjo Gabriel.

XXII
Na porta do paraíso
Quando ACM chegou,
Ofegante e agitado,
A santidade esnobou
E disse para São Pedro:
- Não falo com assessor

XXIII
Mandaram chamar Jesus
(Quem chamou foi São Tomé),
ACM se exaltou,
Fez o maior rapapé:
- Eu só falo é com o pai dele,
Daqui não arredo pé!

XXIV
Jesus Cristo então pediu
O parecer de Maria.
Ela pensou direitinho
Enquanto o Inferno ardia:
- Se o Inferno não agüenta,
Se aqui ele não entra,
Só voltando pra Bahia.

Sólo le pido a Dios

León Gieco.


Sólo le pido a Dios
que el dolor no me sea indiferente,
que la reseca muerte no me encuentre
vacío y solo sin haber hecho lo suficiente.

Sólo le pido a Dios
que lo injusto no me sea indiferente,
que no me abofeteen la otra mejilla
después que una garra me arañó esta suerte.

Sólo le pido a Dios
que la guerra no me sea indiferente,
es un monstruo grande y pisa fuerte
toda la pobre inocencia de la gente.

Sólo le pido a Dios
que el engaño no me sea indiferente
si un traidor puede más que unos cuantos,
que esos cuantos no lo olviden fácilmente.

Sólo le pido a Dios
que el futuro no me sea indiferente,
desahuciado está el que tiene que marchar
a vivir una cultura diferente.

A propósito de um artigo de Mauro Santayana

Destaque para o:


"Há duas coisas que explicam a histeria de certos círculos da oposição. Uma delas - a principal - é o êxito da política econômica. "

Parece briga de aleijado em porta de igreja. O que espanta é a mediocridade. Êxito da política econômica???? Barriga cheia??? Onde vivem esses petistas, meu Deus??

Pensei que uma nação fosse mais que comida, dinheirinho. A felicidade dos petistas em dar esmolas é um acinte, especialmente quando lembramos que era esse gente que estufava o peito para falar em democracia, autonomia, liberdade, ética. Esmola que é a bolsa família, esmola que é a educação pública, a saúde em ruínas, todas acompanhadas de uma manipulação mesquinha que se faz isso a favor do pobre, quando na verdade o petista luta é a favor da pobreza, quer vê-la ali domesticada, servil, contente com as migalhas que o só o lulismo pode distribuir.

Eu, particularmente, sempre senti constrangimento, vergonha de ter o que comer e dormir enquanto um homem é humilhado pela falta de recursos. E essa é uma moral católica, que os anticlericais, os louvadores do mercado, os neoliberais e agora os petistas de todas as formações denunciam como atrasada para justificar a razão de não fazerem nada para acabar com isso, com esse regime usurário que tomou conta do Brasil onde se ganha quem tem, onde a exploração do trabalho virou regra e as oportunidades se distribuem de acordo com a cor da pele, o gênero, a origem familiar e a carteirinha de um partido.

Não vejo mérito na injustiça, na distribuição de renda desse país, na riqueza com a qual se contemplam os banqueiros, os políticos profissionais, os ex-sindicalistas, os pastores evangélicos. O mérito deles é deles, mas a riqueza que têm não serve para nada, não cria nada, a não ser coisas ruins ou feias ou injustas. Me fazem lembrar alguns prefeitos corruptos do interior que, na década de oitenta, encantados com o dinheiro fácil, compravam uma F-1000, um apartamento em Salvador e várias putas. Nada faziam pela municipalidade e, alguns anos depois, se perdiam as eleições, estavam todos pobres, abandonados por suas famílias, ridicularizados por onde passavam.

O poder do Lula vai passar. E não vai demorar para se ver o Lula com a cara barbada cheia de escarros, cuspes e vômitos por onde passe, assim como ocorre com os ACMs, os Luiz Estêvão, os Jáders da vida.

Os petistas são os novos malufistas, os novos carlistas, os verdadeiros direitistas. São os filhos do Golbery, de fato.

Esmolés, assim falávamos dos miseráveis perambulando nas feiras de Central. Esse argumentos do Mauro Santayana são de um esmolé moral. Não sou definitivamente um animal lulista e principalmente maurosantayanista.... mas lá vou eu falar de valores: coragem, ética, criatividade, arte, prazer, invenção.

Entre Hitler, com o seu sucesso econômico, e Itamar Franco com a atriz sem calcinha ao seu lado, fico com o último, lamentando essa bajulação fácil ao Lula, uma figura torpe não pelo erros que demonstra, mas pelos valores que carrega consigo.

Portanto, Vade Retro, Lula!!!!

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Eloquência

Faço alusão ainda à frase de A. Karr que diz que "a botânica é arte de secar as plantas entre folhas de papel e injuriá-las em grego e latim". Para mim, o jornalismo tem sido a arte de secar a verdade entre folhas de papel e injuriá-la em português mesmo".

Chega de eloquência banal.

Cristo e o sacrifício


Encontrei na TV Comunitária uma entrevista com um intitulado "físico e teosofista", aparentemente indiano, de nome Ravi Ravindra falando de Jesus Cristo. Fiquei impressionado com a explanação do guru. Creio que ia ao encontro das opiniões católicas. Fez alusão a anedota dos rabinos que interpretam que o povo judeu foi eleito pelo Senhor para sofrer, não para gozar de um privilégio especial. "Todas as nações foram chamadas a obedecer a Deus e somente os judeus foram tolos o suficiente para aceitar".

Daí o físico passou a dissertar sobre o significado do sacrifício (tornar sagrado, mediante um sofrimento consciente) e também ressaltou que amar a Cristo e fazer com que ele se revele para nós, pressupõe que nós o obedeçamos, cumpramos seus mandamentos. O filho, ressalta Ravindra, mostra que ama o pai quando o obedece e, mais que amor, Cristo pede essa sujeição, esse sacrifício, exemplificado com sua morte na cruz. "Não me parece que Deus queira de nós um sentimento morno, sem paixão. Esse tipo de gente, está lá nas escrituras, serão dispensadas", diz o teosofista.

João Cabral de Mello Neto


O zapin me trouxe a notícia da morte de João Cabral de Mello Neto. Havia uma entrevista do Pedro Bial com ele na Globo News. Sofrível, já que o entrevistado falava de menos e Bial, de mais. Mais sofrível ainda que ele, sincero demais, mostrava como estava debilitado.
_ O senhor se incomoda de "Morte e Vida Severina" um poema feito por encomenda ser a sua obra mais conhecida?
_ Não, não me incomodo. Não acho que seja a melhor coisa que fiz, mas isso não me incomoda.
_ Como é o seu dia-a-dia?
_ Fico o dia todo ouvindo a CBN, já que não posso enxergar.
_ O Brasil dói?
_ Só quando estive fora. Quando estou no Brasil o que dói é Pernambuco.
_ Fazendo uma alusão a Drummond que dizia que Minas não há mais, ainda há Pernabumco?
_ Há, há sim. Apesar de toda a modernidade o interior e Recife estão lá, não mudaram quase nada.
_ O senhor tem algum pensamento que o persegue?
_ Não.
_ Sabe um poema seu ou de outrem de cor?
_ Não.
_ Tem medo da morte?
_ Tenho sim, principalmente do inferno de que falava os padres do colégio Marista. Eu sou um materialista, mas tenho medo do inferno.

Carlitos


O controle remoto me levava por alguns instantes a um documentário na GNT sobre Chaplin, que me arrancou uma risada gostosa como há tempo não dava. Nesse caso, tratava-se de uma cena onde Carlitos acompanhava um jogador de golfe míope que por diversas vezes não acertava a bolinha. Por três vezes ele mostra ao jogador que a bola não saíra do lugar até que perde a paciência, finge acompanhar a trajetória da bola que dá um giro no ar, volta e cai novamente onde nunca havia saído.

Apaixonado


Estou apaixonado por outra. Estou aprisionado e o sentimento aumentou no último final de semana quando assisti "Por quem os Sinos Dobram". De cabelo curto, fazendo o papel da filha de um prefeito republicano assinado por nacionalistas durante a guerra civil espanhola. Ela e aquele sorriso, a expressão maior do sonho estético aristotélico e da poética romântica. Intocável e etérea... A última vez que tive um acesso apaixonado desses foi por Marisa Monte, linda, a voz mais linda do mundo. A paixão esvaneceu-se no segundo trabalho dela: como uma voz tão boa, uma mulher tão bela se punha a cantar umas cançõezinhas daquelas. O estrago provocado teve o mesmo efeito que os vícios e as manias descobertas num relacionamento a dois: não são suficientes para afastar a quem se ama, mas apagam a luz dos olhos. Mas com ela, a belíssima atriz, não. O segundo trabalho dela e ela não me decepcionou. Linda, os sorriso mais lindo com a voz mais doce e o olhar mais meigo que passou por este planeta. Ave Ingrid Bergman...

Panacéias


Considero ingenuidade pensar que educação, saúde e reforma agrária sejam a panacéia para o desenvolvimento econômico, social e cultural do País. Lembro-me de Fernando Pessoa citando aquele que sofria com as injustiças do mundo, com o fato de uns tantos com fome enquanto outros com tanto para comer. E o poeta considerava que não sabia se era fome de comida ou da sobremesa alheia.... Essa indignação fácil e preguiçosa cansa-me tanto... Por isso que prezo muito os militantes, todos eles: sejam evangélicos, macrobióticos, petistas ou esotéricos. O que os deixa indignados são gentes que como eu nos fartamos de defender idéias, proclamar ideais e alimentarmo-nos de utopias absolutamente distintas das nossa atitude de vida e dos nossos valores. Na política, o voto e o blablablá. Na religião, o blablablá e o dízimo (quando há).

Ensino Superior

Ainda sobre educação pública. Os maiores responsáveis pelo descalabro do ensino superior é a própria comunidade acadêmica, que piora a cada dia. E de onde menos se espera daí é que não vem nada mesmo. Cobrança de mensalidade no ensino superior no Brasil deve ser idéia de louco. A exemplo da Espanha, o sujeito deveria ser pago para estudar neste país.