terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

REDES SOCIAIS ATROPELAM A 'SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA'!

Do ex-blog do Cesar Maia
1. Um acompanhamento cuidadoso das mobilizações ocorridas nos países árabes e na Europa, que vem sendo acunhadas de "os indignados", mostra a completa ausência indutora de sindicatos, associações locais ou profissionais ou partidos políticos. Essas mobilizações têm como vetores indutores as redes sociais, as mídias sociais.

2. Ou seja: a chamada 'sociedade civil organizada' perdeu sua capacidade de mobilização e liderança, vis a vis as redes sociais. Isso vale também para os partidos políticos, que se fossilizam exclusivamente na atividade parlamentar e falam para eles mesmos e para os meios de comunicação.

3. Neste aspecto, essa é a primeira mudança profunda desde a revolução francesa, ou seja, desde mais de 200 anos. Portanto, essa mudança não deve ser tratada apenas como um fato interessante para a curiosidade dos analistas. Deve ser tratada como um fato histórico que muda as relações dentro da sociedade civil, dentro da sociedade política e entre ambas. As redes sociais superam a disjuntiva entre democracia representativa, via eleições parlamentares, e democracia direta, via sociedade civil organizada.

4. Uma democracia direta eletrônica com a característica básica de ser horizontal e não ter coordenações, lideranças e organizações estáveis. Não se consegue impor um clichê, ou um nome para um segmento em ebulição nas redes sociais. Não se pode chamar de associação, sindicato ou partido, esta ou aquela rede. Não tem forma nem sede.

5. E as associações civis e políticas que imaginarem poder usar as redes sociais como instrumentos seus, vão perder tempo. Elas têm, de certa maneira, de se dissolver nas redes, resgatando sua integridade pela unidade de suas ideias, sem a pretensão de reproduzir nas redes sociais a forma de fazer política social ou partidária à qual estão acostumados.

6. Esse é um processo que já começou e que vai desenvolver no tempo, os seus caminhos, os seus métodos. Os que pensam ser um modismo serão atropelados. Os que tiverem humildade e estudarem a sua lógica vão se antecipar aos demais nessa transição de organizações verticais rígidas para redes horizontais plásticas e automobilizáveis.

7. E de tal agilidade e rapidez, que quando se estiver fazendo um estudo de caso, outros estarão surgindo. Nenhum permanente na forma e todos permanentes no método.

"MARKETING DE GRANDE SEMEADURA" E A MOBILIZAÇÃO ESTUDANTIL NO CHILE!

1. Alexandre Abdo, cientista molecular da USP, em estudos articulados com a Universidade da Columbia, EUA, sobre redes complexas e dinâmica das influências sociais. Duncan Watts e Jonah Peretti, veterano de campanhas boca a boca pela internet, trabalharam em uma alternativa a esse tipo de propaganda. Apelidada de "big seed marketing" [marketing de grande semeadura] e com foco em pessoas comuns, ignorando hipotéticos influenciadores, a ideia consiste em utilizar meios de comunicação de massa (TV), para atrair um número grande de participantes quaisquer e então incentivá-los a passar a mensagem adiante, o que a internet torna muito barato. As implementações dessa estratégia por Peretti geraram retornos robustos de duas a quatro vezes a audiência inicial pela qual se pagou -um bom negócio, deixando para trás a ideia de conquistar o mundo com influenciadores (formadores de opinião).

2. As multitudinárias mobilizações dos estudantes no Chile são um caso de 'marketing de grande semeadura'. A TV chilena lançou uma série-novela, uns dois meses atrás, com capítulos semanais, tratando dos anos de chumbo do período Pinochet: "Os Arquivos do Cardeal". A série faz memória das histórias de buscas de corpos de desaparecidos mortos pela ditadura chilena, através de iniciativas pessoais apoiadas pela Igreja. Simultaneamente, e por coincidência, os levantamentos das vítimas da ditadura Pinochet ganharam destaque com a inclusão de casos de 40 mil pessoas prejudicadas, fora da lista dos 3.500 mortos ou desaparecidos e outro tanto de torturados.

3. Sem que isso tenha sido planejado, o fato é que a série-novela e os resultados dos levantamentos divulgados pela TV chilena produziram um enorme alcance. A mobilização dos estudantes através de redes sociais gerou a semeadura e a mobilização, o que acabou atraindo as ruas não só estudantes.

4. A sinergia entre Meios de Comunicação de Massa (série TV + relatórios dos vitimados), e a mobilização dos estudantes via redes sociais, produziu um caso de "big seed marketing" -marketing de grande semeadura. Com as mobilizações em diversos países através das redes sociais e eventuais e espontâneas convergências com a TV, se vai criando situações de marketing de grande semeadura com um grande efeito multiplicador e sinérgico.

LULA TEM DOUTORADO EM TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO!

Do ex-blog do Cesar Maia

1. A Técnica de Negociação é hoje uma disciplina de terceiro grau, de importância decisiva num mundo de proximidades, potencializadas pelos contatos eletrônicos. A velocidade dos fatos e das mudanças exige mais e mais o aprimoramento das Técnicas de Negociação, de forma a transformar conhecimento em ação e resultados. A própria publicidade mudou de frequência ao ter que adotar na comunicação elementos de Técnicas de Negociação, tendo ou não consciência disso.

2. Um dos equívocos sobre o ex-presidente Lula é que ele não tinha nível superior. Esse tipo de interpretação supõe que nível superior exige diploma formal depois de 4 ou 5 anos numa faculdade. Certamente não é assim. Alguém que -independente de diploma- estude, aprenda e exercite um tema de nível universitário, dependendo de sua capacidade de assimilação, terá nível universitário.

3. Nesse sentido, Lula tem nível universitário em Técnicas de Negociação. Além da prática no movimento sindical, num momento crítico, o que concentrava no tempo sua prática de negociação, essa prática, em função daquele momento, se estendeu para fora do sindicalismo, agregando proximidade e negociação nas esferas política e social.

4. Se não bastasse, levado pelas mãos do secretário de relações internacionais do PT na época, Marco Aurélio Garcia, Lula frequentou seminários, cursos e imersões sobre Técnicas contemporâneas de Negociação e noções de política internacional, especialmente na Europa a partir do SPD-Alemanha. Efetivamente, Lula tem nível superior e pós-superior de Técnicas de Negociação. A elas agrega o tipo de informalidade própria das negociações sindicais.

5. Lenin, em "O Que Fazer" (1902), afirmava que um líder sindical, habituado a informalidade e a concentração nas questões que envolvem interesses, econômico e negocial, não poderia ser um dirigente do partido sem passar por uma transformação. E dizia que os dirigentes do partido tinham que ser políticos profissionais preparados para isso.

6. Essa análise de Lenin explica as diferenças entre Lula e Dilma (e sua equipe). Explica por que tantas informalidades e interesses negociais conviviam com Lula no governo. De um lado, um dirigente sindical expert em Técnicas de Negociação. Do outro, a rigidez do comando em base ao centralismo..., democrático de Lenin.

7. Se as informalidades transferem os problemas éticos ao governo seguinte, por outro lado, a ausência de expertise em Técnicas de Negociação, vis a vis o governo e o estilo do governo anterior, cria um nó cego nas relações de Dilma com os segmentos político, sindicais, empresariais, e externos. Para ter o nível superior de Lula em Técnicas de Negociação seriam necessários uns 20 anos de prática e teoria. A comparação será -já é- inevitável.

8. Aliás, as empresas que contratam Lula para falar o óbvio otimista sobre o país deveriam contratá-lo para falar sobre sua experiência em Negociação. Certamente seria muito melhor do que chamar líderes esportivos para tratar do tema mesclado a trabalho em equipe, como se tem feito. E valeria a pena gastar o dinheiro que tem gasto.