sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Império do consumo e da estupidez

A Ley de Murphy é implacável: De onde menos se espera daí é que não vem nada mesmo.


Eduardo Galeano
A explosão do consumo no mundo atual faz mais barulho do que todas as guerras e mais algazarra do que todos os carnavais. Como diz um velho provérbio turco, aquele que bebe a conta, fica bêbado em dobro. A gandaia aturde e anuvia o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites no tempo nem no espaço.
Mas a cultura de consumo faz muito barulho, assim como o tambor, porque está vazia; e na hora da verdade, quando o estrondo cessa e acaba a festa, o bêbado acorda, sozinho, acompanhado pela sua sombra e pelos pratos quebrados que deve pagar.

A cultura do consumo é o mesmo que a cultura da caminhada, a cultura do almoço, a cultura do sono, a cultura do xixi.... o consumo, até onde me alcança é um ato integrante até de uma cultura....


A expansão da demanda se choca com as fronteiras impostas pelo mesmo sistema que a gera. O sistema precisa de mercados cada vez mais abertos e mais amplos tanto quanto os pulmões precisam de ar e, ao mesmo tempo, requer que estejam no chão, como estão, os preços das matérias primas e da força de trabalho humana. O sistema fala em nome de todos, dirige a todos sua imperiosas ordens de consumo, entre todos espalha a febre compradora; mas não tem jeito: para quase todo o mundo esta aventura começa e termina na telinha da TV. A maioria, que contrai dívidas para ter coisas, termina tendo apenas dívidas para pagar suas dívidas que geram novas dívidas, e acaba consumindo fantasias que, às vezes, materializa cometendo delitos. O direito ao desperdício, privilégio de poucos, afirma ser a liberdade de todos.

A expansão da demanda, vejam só, não é um conceito que se aplique sem que se leve em conta o discurso e os demais conceitos econômicos.O Galeano tem vergonha de dar nome ao sistema. Qual sistema, cara pálida? O capitalista? E que mistura louca é essa que começa com a expansão da demanda, vai para o consumismo impulsionado pela telinha de TV e pára nas dívidas. Quem tem dívida, ô Galeano, é quem tem crédito... os inadimplentes padecem por um problemas que eles mesmo provocam e, pasmem, são uma "imensa minoria".


Dize-me quanto consomes e te direi quanto vales. Esta civilização não deixa as flores dormirem, nem as galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores estão expostas à luz contínua, para fazer com que cresçam mais rapidamente. Nas fábricas de ovos, a noite também está proibida para as galinhas. E as pessoas estão condenadas à insônia, pela ansiedade de comprar e pela angústia de pagar. Este modo de vida não é muito bom para as pessoas, mas é muito bom para a indústria farmacêutica. Os EUA consomem metade dos calmantes, ansiolíticos e demais drogas químicas que são vendidas legalmente no mundo; e mais da metade das drogas proibidas que são vendidas ilegalmente, o que não é uma coisinha à-toa quando se leva em conta que os EUA contam com apenas cinco por cento da população mundial.

Infere-se das contas do Galeano que todo americano ou está dopado ou está drogado. Como é que eles conseguem manter o complexo-industrial-militar-consumista de sua economia crescendo mais que o Brasil, onde o presidente não toma cachaça e só tem petista diligente e laborioso trabalhando?

«Gente infeliz, essa que vive se comparando», lamenta uma mulher no bairro de Buceo, em Montevidéu. A dor de já não ser, que outrora cantava o tango, deu lugar à vergonha de não ter. Um homem pobre é um pobre homem. «Quando não tens nada, pensas que não vales nada», diz um rapaz no bairro Villa Fiorito, em Buenos Aires. E outro confirma, na cidade dominicana de San Francisco de Macorís: «Meus irmãos trabalham para as marcas. Vivem comprando etiquetas, e vivem suando feito loucos para pagar as prestações».

Os pobres latinos se sentem diminuídos porque não têm roupas de marca. Não sei por que, eu, nordestino, que cresci vestindo roupa de feira livre sobrevivi às teses do Galeano.


Invisível violência do mercado: a diversidade é inimiga da rentabilidade, e a uniformidade é que manda. A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todas partes suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora do que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.

O Galeano entende muito de economia. Acho que a produção em série de produtos é mais opressiva que a ditadura de Fidel Castro, o regime soviético, a vida na Coréia do Norte, esses lugares onde existe o partido único. Alguém precisa dar a ele uma foto de um supermercado comunista... ou melhor uma foto da antiga Cobal, da SAB ou da Cesta do Povo, para ele enteder o que é uniformização....

O consumidor exemplar é o homem quieto. Esta civilização, que confunde quantidade com qualidade, confunde gordura com boa alimentação. Segundo a revista científica The Lancet, na última década a «obesidade mórbida» aumentou quase 30% entre a população jovem dos países mais desenvolvidos.

O consumidor exemplar é quieto? hahahah.. Uma pesquisa que faz parte de qualquer beabá de marketing mostra que o consumidor amplia em 10 vezes as reclamações contra um mau serviço e apenas duas vezes a de um bom. Tõ fazendo minha parte com o Galeano. Ele traz os números: O aumento de 30% mostra que toda a CIVILIZAÇÃO (judaico-cristã-ocidental) confunde o que é uma comida.


Entre as crianças norte-americanas, a obesidade aumentou 40% nos últimos dezesseis anos, segundo pesquisa recente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Colorado. O país que inventou as comidas e bebidas light, os diet food e os alimentos fat free, tem a maior quantidade de gordos do mundo. O consumidor exemplar desce do carro só para trabalhar e para assistir televisão. Sentado na frente da telinha, passa quatro horas por dia devorando comida plástica.

Bingo!! Galeano descobriu que o consumidor exemplar trabalha.


Vence o lixo fantasiado de comida: essa indústria está conquistando os paladares do mundo e está demolindo as tradições da cozinha local. Os costumes do bom comer, que vêm de longe, contam, em alguns países, milhares de anos de refinamento e diversidade e constituem um patrimônio coletivo que, de algum modo, está nos fogões de todos e não apenas na mesa dos ricos. Essas tradições, esses sinais de identidade cultural, essas festas da vida, estão sendo esmagadas, de modo fulminante, pela imposição do saber químico e único: a globalização do hambúrguer, a ditadura do fast food. A plastificação da comida em escala mundial, obra do McDonald´s, do Burger King e de outras fábricas, viola com sucesso o direito à autodeterminação da cozinha: direito sagrado, porque na boca a alma tem uma das suas portas.

Morte ao MacDonald's! Viva o Xinxim de Galinha!


A Copa do Mundo de futebol de 1998 confirmou para nós, entre outras coisas, que o cartão MasterCard tonifica os músculos, que a Coca-Cola proporciona eterna juventude e que o cardápio do McDonald´s não pode faltar na barriga de um bom atleta. O imenso exército do McDonald´s dispara hambúrgueres nas bocas das crianças e dos adultos no planeta inteiro. O duplo arco dessa M serviu como estandarte, durante a recente conquista dos países do Leste Europeu.

Alguém invadiu o Leste Europeu e eu não fiquei sabendo???? O Galeano tá tomando ansiolítico de americano.

As filas na frente do McDonald´s de Moscou, inaugurado em 1990 com bandas e fanfarras, simbolizaram a vitória do Ocidente com tanta eloqüência quanto a queda do Muro de Berlim. Um sinal dos tempos: essa empresa, que encarna as virtudes do mundo livre, nega aos seus empregados a liberdade de filiar-se a qualquer sindicato. O McDonald´s viola, assim, um direito legalmente consagrado nos muitos países onde opera. Em 1997, alguns trabalhadores, membros disso que a empresa chama de Macfamília, tentaram sindicalizar-se em um restaurante de Montreal, no Canadá: o restaurante fechou. Mas, em 98, outros empregados do McDonald´s, em uma pequena cidade próxima a Vancouver, conseguiram essa conquista, digna do Guinness.

Ok... Ele se desmente para melhorar o argumento. Viva o Guiness!


As massas consumidoras recebem ordens em um idioma universal: a publicidade conseguiu aquilo que o esperanto quis e não pôde.
Qualquer um entende, em qualquer lugar, as mensagens que a televisão transmite. No último quarto de século, os gastos em propaganda dobraram no mundo todo. Graças a isso, as crianças pobres bebem cada vez mais Coca-Cola e cada vez menos leite e o tempo de lazer vai se tornando tempo de consumo obrigatório. Tempo livre, tempo prisioneiro: as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisão, e a televisão está com a palavra. Comprado em prestações, esse animalzinho é uma prova da vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas fala para todos.

Os dados do Galeano são tão estapafúrdios que chegam a ser trágicos. Milhões de mães pobres de pobres Galeanos no mundo inteiro, depois de trocar o leito pela coca cola, não vão mais dar mais arroz com feijão pro meninos, que vão passar a comer, por módicos R$ 10 diários, um bigmac. E eu, sinceramente, não entendi a "vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas fala para todos".


Pobres e ricos conhecem, assim, as qualidades dos automóveis do último modelo, e pobres e ricos ficam sabendo das vantajosas taxas de juros que tal ou qual banco oferece. Os especialistas sabem transformar as mercadorias em mágicos conjuntos contra a solidão. As coisas possuem atributos humanos: acariciam, fazem companhia, compreendem, ajudam, o perfume te beija e o carro é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da solidão o mais lucrativo dos mercados.

De novo.. a cultura do consumo.


Os buracos no peito são preenchidos enchendo-os de coisas,
ou sonhando com fazer isso. E as coisas não só podem
abraçar: elas também podem ser símbolos de ascensão social,
salvo-condutos para atravessar as alfândegas da sociedade
de classes, chaves que abrem as portas proibidas. Quanto
mais exclusivas, melhor: as coisas escolhem você e salvam
você do anonimato das multidões. A publicidade não informa
sobre o produto que vende, ou faz isso muito raramente.
Isso é o que menos importa. Sua função primordial consiste
em compensar frustrações e alimentar fantasias. Comprando
este creme de barbear, você quer se transformar em quem?

A publicidade, fiquem estarrecidos, nunca informou.


O criminologista Anthony Platt observou que os delitos das
ruas não são fruto somente da extrema pobreza. Também são
fruto da ética individualista. A obsessão social pelo
sucesso, diz Platt, incide decisivamente sobre a
apropriação ilegal das coisas. Eu sempre ouvi dizer que o
dinheiro não trás felicidade; mas qualquer pobre que
assista televisão tem motivos de sobra para acreditar que o
dinheiro trás algo tão parecido que a diferença é assunto
para especialistas.

Ou seja, todo crime cometido por pobres está justificado, não Galeano? De quem é a mente doentia? Do criminoso ou de quem o justifica?

Segundo o historiador Eric Hobsbawm, o século XX marcou o
fim de sete mil anos de vida humana centrada na
agricultura, desde que apareceram os primeiros cultivos, no
final do paleolítico. A população mundial torna-se urbana,
os camponeses tornam-se cidadãos. Na América Latina temos
campos sem ninguém e enormes formigueiros urbanos: as
maiores cidades do mundo, e as mais injustas. Expulsos pela
agricultura moderna de exportação e pela erosão das suas
terras, os camponeses invadem os subúrbios.

Eu saí do interior porque quis, atrás de oportunidades. Acreditem-me, eu não fui expulso por ninguém.


Eles acreditamque Deus está em todas partes, mas por experiência própria
sabem que atende nos grandes centros urbanos.

Fazer chacota com a fé alheia, essa fé ingênua de camponeses.


As cidades prometem trabalho, prosperidade, um futuro para
os filhos. Nos campos, os esperadores olham a vida passar,
e morrem bocejando; nas cidades, a vida acontece e chama.
Amontoados em cortiços, a primeira coisa que os recém
chegados descobrem é que o trabalho falta e os braços
sobram, que nada é de graça e que os artigos de luxo mais
caros são o ar e o silêncio.

Blá, blá, blá... As cidades oferecem educação e saúde e renda, fruto do trabalho. Até a classe média brasiliense, que reclama da invasão nordestina (minoria, aliás, entre os migrantes), deveria saber que ninguém deixaria a Bahia e o Piauí atrás de um lote, se junto com ele não tivesse a oportunidade de melhores condições de vida, escola, hospital.... essas coisas pequeno-burguesas.


Enquanto o século XIV nascia, o padre Giordano da Rivalto
pronunciou, em Florença, um elogio das cidades. Disse que
as cidades cresciam «porque as pessoas sentem gosto em
juntar-se». Juntar-se, encontrar-se. Mas, quem encontra com
quem? A esperança encontra-se com a realidade? O desejo,
encontra-se com o mundo? E as pessoas, encontram-se com as
pessoas?Se as relações humanas foram reduzidas a relações
entre coisas, quanta gente encontra-se com as coisas?
O mundo inteiro tende a transformar-se em uma grande tela
de televisão, na qual as coisas se olham mas não se tocam.
As mercadorias em oferta invadem e privatizam os espaços
públicos.

Que discursinho, hein!. As pessoas se encontram nas cidades, sim, onde há vida nas comunidades religiosos, nos cafés, nos bares, nas reuniões familiares. Alguém convida esse sujeito para um churrasco, por favor..


Os terminais de ônibus e as estações de trens, que até
pouco tempo atrás eram espaços de encontro entre pessoas,
estão se transformando, agora, em espaços de exibição
comercial. O shopping center, o centro comercial, vitrine
de todas as vitrines, impõe sua presença esmagadora. As
multidões concorrem, em peregrinação, a esse templo maior
das missas do consumo. A maioria dos devotos contempla, em
êxtase, as coisas que seus bolsos não podem pagar, enquanto
a minoria compradora é submetida ao bombardeio da oferta
incessante e extenuante. A multidão, que sobe e desce pelas
escadas mecânicas, viaja pelo mundo: os manequins vestem
como em Milão ou Paris e as máquinas soam como em Chicago;
e para ver e ouvir não é preciso pagar passagem. Os
turistas vindos das cidades do interior, ou das cidades que
ainda não mereceram estas benesses da felicidade moderna,
posam para a foto, aos pés das marcas internacionais mais
famosas, tal e como antes posavam aos pés da estátua do
prócer na praça.

No passado, ninguém fazia fotos em frente a uma loja famosa. Era tão boa aquela época, não??? Alguém precisa apresentar a rodoforroviária e a ferroviária do Plano Piloto para esse sujeito.


Beatriz Solano observou que os habitantes dos bairros
suburbanos vão ao center, ao shopping center, como antes
iam até o centro. O tradicional passeio do fim-de-semana
até o centro da cidade tende a ser substituído pela
excursão até esses centros urbanos. De banho tomado,
arrumados e penteados, vestidos com suas melhores galas, os
visitantes vêm para uma festa à qual não foram convidados,
mas podem olhar tudo. Famílias inteiras empreendem a viagem
na cápsula espacial que percorre o universo do consumo,
onde a estética do mercado desenhou uma paisagem alucinante
de modelos, marcas e etiquetas.

No Conjunto Nacional ou no Parkshopping?


A cultura do consumo, cultura do efêmero, condena tudo à
descartabilidade midiática. Tudo muda no ritmo vertiginoso
da moda, colocada à serviço da necessidade de vender. As
coisas envelhecem num piscar de olhos, para serem
substituídas por outras coisas de vida fugaz. Hoje, quando
o único que permanece é a insegurança, as mercadorias,
fabricadas para não durar, são tão voláteis quanto o
capital que as financia e o trabalho que as gera. O
dinheiro voa na velocidade da luz: ontem estava lá, hoje
está aqui, amanhã quem sabe onde, e todo trabalhador é um
desempregado em potencial.
Paradoxalmente, os shoppings centers, reinos da fugacidade,
oferecem a mais bem-sucedida ilusão de segurança. Eles
resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, sem noite e
sem dia e sem memória, e existem fora do espaço, além das
turbulências da perigosa realidade do mundo.
Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável:
uma mercadoria de vida efêmera, que se esgota assim como se
esgotam, pouco depois de nascer, as imagens disparadas pela
metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a
publicidade lança, sem pausa, no mercado.

Os donos do mundo??? Quem, os capitalistas ferozes assassinos?


Mas, para qual outro mundo vamos nos mudar? Estamos todos obrigados a
acreditar na historinha de que Deus vendeu o planeta para
umas poucas empresas porque, estando de mau humor, decidiu
privatizar o universo? A sociedade de consumo é uma
armadilha para pegar bobos.

Deus vendeu o mundo? Dá plantão nas cidades? O Deus do Galeano é privatista e "malumorado".


Aqueles que comandam o jogo fazem de conta que não sabem
disso, mas qualquer um que tenha olhos na cara pode ver que
a grande maioria das pessoas consome pouco, pouquinho e
nada, necessariamente, para garantir a existência da pouca
natureza que nos resta. A injustiça social não é um erro
por corrigir, nem um defeito por superar: é uma necessidade
essencial. Não existe natureza capaz de alimentar um
shopping center do tamanho do planeta.

De te fabula narratur: "A injustiça social não é um erro
por corrigir, nem um defeito por superar: é uma necessidade
essencial.".. Sem essa injustiça social, de quê viveriam os Galeanos?



Tradução: Verso Tradutores

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